Ter uma coisa no ventre: Provérbio Japonês

Provérbios

Pronúncia de “腹に一物”

Hara ni ichimotsu

Significado de “腹に一物”

“Ter uma coisa no ventre” é um provérbio que expressa ter pensamentos ou sentimentos ocultos no fundo do coração.

Refere-se a um estado onde alguém parece calmo e não diz nada na superfície, mas interiormente abriga pensamentos ou emoções diferentes. Esta expressão não necessariamente tem apenas conotações negativas; também pode incluir casos onde alguém esconde seus verdadeiros sentimentos por consideração aos outros, ou se abstém de falar enquanto espera o momento certo. No entanto, é frequentemente usada sobre pessoas que devem ser abordadas com cautela, como “Aquela pessoa parece ter uma coisa no ventre,” quando você não consegue avaliar as verdadeiras intenções de alguém.

A razão pela qual este provérbio é usado é para expressar a sutileza dos relacionamentos humanos. A cultura japonesa tende a evitar expressão direta, e ler os verdadeiros sentimentos dos outros tem sido considerado importante. Mesmo hoje, há muitas situações em locais de trabalho e relacionamentos pessoais onde atitudes superficiais não correspondem aos pensamentos internos. Esta frase continua a ser usada como uma forma de expressar sucintamente tais estados psicológicos complexos.

Origem e etimologia

A origem de “Ter uma coisa no ventre” está no contexto cultural onde os japoneses há muito consideram o “ventre” como a sede do coração. No Japão, muitas expressões foram criadas que usam “ventre” para representar emoções e pensamentos. Há incontáveis expressões que representam estados de espírito através do ventre, como “ficar com raiva” (belly wo tateru), “tomar uma decisão” (belly wo kimeru), e “coração negro” (belly-black).

A palavra “uma coisa” (ichimotsu) é interessante. Enquanto nos tempos modernos “coisa” (mono) frequentemente se refere a objetos concretos, na linguagem clássica também incluía conceitos abstratos como “assuntos,” “pensamentos,” e “sentimentos.” Em outras palavras, a “uma coisa” em “Ter uma coisa no ventre” significava “um sentimento” ou “um certo pensamento” escondido no fundo do coração.

Expressões similares podem ser encontradas na literatura do período Edo, e se estabeleceu como um idioma expressando a complexidade dos corações humanos. Está profundamente conectado à cultura unicamente japonesa de “sentimentos verdadeiros e postura pública” (honne e tatemae), e acredita-se ser uma forma concisa e impressionante de expressar o estado psicológico humano de parecer calmo na superfície enquanto abriga pensamentos diferentes por dentro. Esta expressão tem sido amada por tanto tempo porque captura a psicologia humana universal com a qual muitas pessoas podem se identificar.

Curiosidades

A palavra “uma coisa” (ichimotsu) principalmente se refere a “objetos” nos tempos modernos, mas na linguagem clássica também era usada em significados abstratos como “um assunto” ou “um certo sentimento.” Portanto, a “coisa” em “Ter uma coisa no ventre” se refere não a um objeto concreto mas a “sentimentos” ou “pensamentos.”

Entre os comerciantes do período Edo, a habilidade de ler o que estava no ventre de alguém estava diretamente ligada ao sucesso nos negócios, então a habilidade de detectar “oponentes com uma coisa no ventre” era considerada uma capacidade importante. Esta sensibilidade pode ser dita que continua nas negociações de negócios modernas também.

Exemplos de uso

  • O novo gerente do departamento nos cumprimenta com um sorriso, mas de alguma forma parece ter uma coisa no ventre, então não posso baixar a guarda
  • Ela sempre me trata gentilmente, mas às vezes sinto ter uma coisa no ventre nas expressões que ocasionalmente mostra

Interpretação moderna

Na sociedade moderna, o conceito de “Ter uma coisa no ventre” passou a ter significados mais complexos e multi-camadas. Com a disseminação das redes sociais e aplicativos de mensagens, passamos a separar mais frequentemente a comunicação superficial de nossos verdadeiros sentimentos.

Online, casos estão aumentando onde pessoas pressionam “curtir” enquanto na verdade abrigam emoções complexas. Além disso, com a disseminação do trabalho remoto, tornou-se mais difícil ler as verdadeiras intenções dos outros em reuniões através de telas. Métodos tradicionais de sentir “ter uma coisa no ventre” através de expressões faciais e atmosfera tornaram-se menos eficazes.

Por outro lado, há também uma tendência em direção a valorizar a transparência na sociedade da informação. Situações onde ter “uma coisa no ventre” não é permitido aumentaram, como conformidade corporativa e responsabilidade de políticos. No entanto, ao mesmo tempo, a importância da privacidade também é enfatizada, e o valor de que nem tudo precisa ser revelado permanece forte.

Nos tempos modernos, julgamento mais cuidadoso é necessário em relação aos prós e contras de ter “uma coisa no ventre.” A fronteira entre estrategicamente reter informações e desonestamente esconder coisas tornou-se ambígua, e a complexidade da psicologia humana mostrada por este provérbio pode na verdade ser mais adequada aos tempos modernos.

Quando a IA ouve isso

A expressão “hara” (barriga) em “hara ni ichimotsu” representa uma escolha extraordinariamente precisa na concepção corporal japonesa. Isso porque a barriga é posicionada como sede de pensamentos mais profundos e estratégicos, claramente distinta do “peito”, que expressa emoções superficiais, e da “cabeça”, associada ao pensamento racional.

O japonês possui inúmeras expressões usando “hara”: “hara wo kimeru” (tomar uma decisão firme), “hara wo waru” (abrir o coração), “haraguroi” (malicioso), “haragei” (comunicação sutil). Todas se referem a aspectos essenciais do interior que não aparecem na superfície. O que chama especial atenção é que a barriga não é vista apenas como sede das emoções, mas como centro de atividades intelectuais e intencionais, como cálculos e estratégias.

Se fosse “peito ni ichimotsu”, evocaria emoções temporárias ou ressentimentos; “cabeça ni ichimotsu” sugeriria pensamentos excessivamente racionais. Mas “hara ni ichimotsu” implica intenções mais profundas, de longo prazo e às vezes astutas. Isso tem profunda relação com a cultura do bushido japonês. Os samurais demonstravam sua vontade final “cortando a barriga” e tomavam decisões corajosas “assentando a barriga”.

O fascinante é que a neurociência moderna também destaca a íntima relação entre intestino e cérebro através da “correlação intestino-cérebro”. Os japoneses, mesmo sem base científica, reconheceram intuitivamente a região abdominal como um “segundo cérebro”, acreditando que ali residem pensamentos ocultos profundos e verdadeiras intenções.

Lições para hoje

“Ter uma coisa no ventre” ensina às pessoas modernas a importância da distância apropriada nos relacionamentos humanos. Nos ensina que falar sem esconder nada não é necessariamente sempre certo, e que às vezes é necessário reter os verdadeiros sentimentos por consideração aos outros.

O que é importante é discernir se essa “uma coisa” é destinada a ferir a outra pessoa ou é destinada por consideração a ela. Ajustar os pensamentos internos para propósitos construtivos pode ser considerado uma resposta adulta madura.

Como lidar com sentir “ter uma coisa no ventre” nos outros também é importante. Em vez de se tornar suspeito, é importante ter uma atitude de tentar entender a posição e circunstâncias da outra pessoa. Talvez essa pessoa tenha suas próprias considerações ou circunstâncias.

Enquanto a transparência da informação tende a ser exigida na sociedade moderna, o coração humano não é tão simples. A frase “ter uma coisa no ventre” nos ensina a importância de reconhecer a complexidade uns dos outros e respeitar a profundidade dos corações dos outros. Em vez de transparência perfeita, distância atenciosa e apropriada é a chave para construir relacionamentos humanos ricos.

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